Livros de “autoajuda” podem aumentar suas notas? Ou só vão fazer você perder tempo? (PARTE 1)

Você costuma ler livros de autoajuda? Ou acha que eles são todos uma grande piada? 

Livros de autoajuda devem ir todos para o lixo?

Nenhuma outra categoria de livros é tão controversa quanto a de chamada “autoajuda”. É mais ou menos como alguns políticos da atualidade no Brasil e no mundo. Assim como eles, a autoajuda desperta reverência total ou desprezo radical na maioria das pessoas.

Também nos dois casos, é raro encontrar alguém que tente fazer uma análise mais balanceada dos fatos… Estes, coitados, são atacados pelos dois lados… 😨

Pessoalmente, apesar de não ser budista, prefiro sempre tentar encontrar o “caminho do meio”… Aliás, até prefiro um termo menos “carregado” para a categoria: desenvolvimento pessoal.

Em busca deste caminho do meio, teremos por aqui:

Autoajuda é tudo a mesma coisa?

Eu sei, eu sei, estou me arriscando aqui a levar pancada tanto dos apaixonados quanto dos enojados… 😉

O “caminho do meio” é o mais difícil, porque exige reflexão, pensamento crítico e coragem de ter ideias próprias. Ideias que podem não necessariamente refletir a opinião da maioria das pessoas do seu grupo social. ​M​a​s​ ​ta​mb​é​m costuma ser ​o caminho mais enrique​c​e​do​r e mais honesto​.

A verdade é que todos os gêneros literários têm algumas poucas obras-primas e um montão do que se poderia considerar puro lixo. Além de uma boa quantidade de material que fica no meio do caminho (ou seria no caminho do meio? 🤔)…

No que se refere aos livros de autoajuda ou desenvolvimento pessoal, a boa notícia é que existem pistas claras a seguir. Com elas, você descobre facilmente se as sugestões oferecidas são minimamente fundamentadas ou são puro “achismo” de algum charlatão mal-informado.

DICA: O título do livro NÃO é uma dessas pistas...

Não julgue pelas aparências: 3 livros sensacionais com títulos “suspeitos”…

Nem sempre é fácil classificar um livro. Mais difícil ainda é decidir se ele é merece crédito ou não… E o título definitivamente não é o melhor critério para fazer a classificação.

Charles Duhigg, autor de O Poder do Hábito

Meu exemplo preferido é o livro “O Poder do Hábito“, de Charles Duhigg.  Aliás, vou aproveitar e fazer aqui uma…

Homenagem” a um hater… 🤓

Um dia desses o cidadão criticou um vídeo no Facebook em que eu mostrava justamente o Poder do Hábito por um ou dois segundos.

O crítico (“hater”?) dizia que eu não sabia o que estava dizendo, porque estava usando “autoajuda” como referência… 🙄

Esta pessoa certamente nunca abriu O Poder do Hábito. Ela não sabe que da página 302 até a página 383 (sim 82 páginas inteiras!) são dedicadas às notas do autor sobre as fontes de pesquisa usadas no livro. Entre estas fontes, estão centenas de artigos científicos citados para fundamentar cada capítulo...

Em outras palavras, estamos claramente diante de um livro de divulgação científica. O único problema é que realmente o título não é dos melhores… 😟

Infelizmente, títulos ruins e apelativos acontecem com frequência, mesmo com excelentes livros.  Afinal de contas, editoras, livrarias e autores também precisam pagar as contas. E livros categorizados ou percebidos como autoajuda costumam vender bem mais que títulos “neutros”, “sérios” ou “academicamente aceitáveis”…

Vamos falar de mais dois  livros incríveis, com ideias muito bem fundamentadas, escritos por quem entende a fundo do que está falando e com títulos, digamos, “estranhos”… 

Filosofia para quê mesmo?

Luc Ferry, autor de Aprender a Viver

O filósofo e professor universitário francês Luc Ferry (que também já foi Ministro da Educação na França) é bem ambicioso na sua proposta. Ele promete melhorar sua vida inteira com um livro fininho que se chama Aprender a Viver.

Ousadinho, ele, não? 😉 

Na verdade, o livro não é nada mais do que uma introdução informal às ideias básicas da Filosofia.

Acontece que tem muitas pessoas procurando umas dicas para melhorar a vida. E bem poucas dispostas a aprender Filosofia só pelo prazer de aprender. Mesmo que o principal papel da Filosofia seja “aprender a viver”, pouca gente sabe disso… 😩

Quem é este cara para ditar regras?

Jordan Peterson, de “12 regras para a vida”

Por sua vez, o psicólogo e pesquisador canadense Jordan B. Peterson é ainda mais direto que o Ministro Luc Ferry. Ele tem uma proposta bem parecida, só que desta vez baseada em estudos de Psicologia e Biologia Evolucionária.

Recentemente, ele publicou um livro que se tornou um Best Seller de sucesso estrondoso no mundo inteiro que se chama pura e simplesmente “12 regras para a vida. 😬

O caso é que o Dr. Peterson tem uma lista bem impressionante de artigos publicados e citados por seus colegas pesquisadores.

Em outras palavras, existem “fortes indícios” de que ele seja um pesquisador bastante importante na área dele. Ou seja, as ideias e “regras” dele não são exatamente descartáveis… 

Se você souber inglês pode assistir na íntegra um dos cursos dele na Universidade de Toronto. Ali você vai muito provavelmente comprovar em primeira mão que ele é um verdadeiro poço de conhecimento. Além de saber muito sobre a Psicologia Humana, ele também navega com facilidade em outras áreas relacionadas, como História e Filosofia.

A quem você pede conselhos?

Se você tem um problema importante na sua vida, não vai pedir conselhos sobre como resolver o tal problema ao primeiro que aparecer. Em geral, você tem uma boa noção de quem, entre os seus conhecidos, teria as condições de dar os melhores conselhos para o seu caso específico.

Alguns critérios que usamos mais ou menos inconscientemente são:

  • Você conhece esta pessoa razoavelmente e tem alguma intimidade com ela.
  • A pessoa já vivenciou situações parecidas ou pelo menos conhece alguma coisa do assunto.
  • A pessoa já lhe deu conselhos úteis antes.

Mesmo encontrando alguém digno de tanta confiança, precisamos ter um mínimo de senso crítico para analisar se o conselho dado tem fundamento e vale a pena experimentar.

O mesmo se aplica aos livros.

Pela minha formação e também por personalidade, meu critério principal para os livros de desenvolvimento pessoal é que eles tenham um mínimo de embasamento científico.

Por este motivo, na maior parte das vezes eu prefiro buscar respostas para as questões que me preocupam em sujeitos como Charles Duhigg, Luc Ferry ou Jordan Peterson. Me parece bem mais seguro do que me guiar pela opinião de um tio ou uma prima que talvez nem entendam o que estou falando… 

O embasamento dos livros pode se encontrado de duas formas:

  • EXPLICITAMENTE, pelas referências bibliográficas citadas. Um exemplo que se encaixa neste caso é O Poder do Hábito , com suas mais de 80 páginas de referências. 
  • IMPLICITAMENTE, pelas credenciais dos autores, como no caso de Aprender a Viver, que faz apenas algumas referências aos clássicos. 

Na maior parte dos casos, as duas formas de embasamento são encontradas juntas. Isso acontece claramente em “12 regras para a vida” em que além das referências, temos um autor com um currículo nada menos que fenomenal.

Como encontrar boas respostas escondidas em embalagens estranhas

Então, espero que neste ponto você concorde comigo que procurar ajuda para os problemas da vida em livros não é nenhum pecado mortal. Aliás, pode ser a coisa mais inteligente a se fazer.

Mas você precisa usar o cérebro para evitar dois sérios riscos… 

Eles estão em lados opostos:

  1. Descartar um ótimo livro por puro preconceito, só porque o título é “comercial” ou porque alguém que não o leu disse que é “bobagem de autoajuda”. No mínimo, pergunte a esta pessoa porque ela acha que o livro é ruim. Se ela não leu, você vai saber. Neste caso a opinião dela vale exatamente nada. Procure outra opinião ou leia o livro e tenha a sua. 
  2. Seguir conselhos de gente que não tem ideia do que está falando. Procure se certificar de que aqueles que você ouve ou lê tem algum fundamento por trás dos conselhos que dão. Pergunte de onde eles tiraram suas ideias. Isso vale para os autores dos livros e também para seus amigos que opinam sobre livros que eles só conhecem pela capa. 😉

Enfim, você já tem aí as sugestões de 3 livros que valem a pena ler.  Principalmente se você está precisando encontrar um GPS para ajudar a colocar alguma ordem na sua vida.

E claro, se você confia na minha opinião sobre livros… 😅


No próximo artigo (PUBLICADO!), vamos direcionar a conversa para algumas ideias que aparecem toda hora quando o assunto é desenvolvimento pessoal. Vou fazer uma seleção daquelas que podem ajudar diretamente você a aprender mais e alcançar notas melhores.

Enquanto isso, diga aí nos comentários: qual a sua relação com este tipo de livro?

E aproveite para refletir: o quanto a sua relação com técnicas de desenvolvimento pessoal ou autoajuda está ligada à opinião de pessoas próximas a você ou do seu grupo social?

11 Comentários


  1. Realmente há preconceito com o termo auto-ajuda, como se o leitor é só quem está no “fundo do poço”. E mesmo que tenha um ou vários problemas, qual o mal de buscar orientação em livros? Eu não me importo, auto-ajuda ou desenvolvimento pessoal, o que interessa é o conteúdo do livro, como foi citado. Todos temos algo pra aprender e melhorar como seres humanos, estamos aqui pra isso.

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  2. Olá, Ana! Rótulos sempre me incomodam. Rotular um livro como auto ajuda é muitas vezes uma visão preconceituosa e mesquinha. Busco referências com pessoas que não se importam com isso.

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  3. Desculpa Ana, mas nesse caso aí eu sou “radical” e no caso da autoajuda não tem nada que preste. É tudo puro lixo. Fico com o que disseram Steve Salerno e Christopher Brickley, além de ficar com aquela famosa frase que diz que livros de autoajuda só ajudam seus autores.

    E apesar de os títulos realmente não ajudar, esses livros e essas pessoas que você citou nesse texto (e que você cita em outros textos e nos seus vídeos) não se encaixam na categoria de autoajuda pois, como você bem disse e sempre toma esse cuidado, todos eles são pesquisadores, professores e todos esses livros têm um mínimo de embasamento científico. Diferentemente de livros de autoajuda que se baseiam em senso comum, lugar comum, soluções simples para problemas complexos e, não raro, apoiam-se em pseudociência.

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    1. Entendo o seu ponto, Ângelo. Também já fui mais radical sobre isso até que algumas pessoas me convenceram a ler livros que poderiam ser classificados como autoajuda e fizeram diferença para mim em algum aspecto. Além disso tem a questão da classificação feita nas livrarias, que é meio nebulosa. Claro que tem o ponto central do embasamento científico, que eu prezo muito. Só que muitas vezes ele está implícito. Já teve livros em que eu sabia exatamente de onde o autor havia tirado certas afirmações, mas não havia deixado explícito, porque o propósito do livro era ser uma espécie de manual ou passo a passo. É uma longa discussão. Ainda vem aí mais coisa, e talvez eu precise fazer mais do que as duas partes que eu tinha planejado. 😉

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  4. Bom dia Ana,
    Hoje abri o yahoo e tinha lá “20 livros que empreendedores devem ler”, o Poder do Hábito estava entre eles. Ou seja, não é somente um livro para desenvolvimento pessoal, é também um livro para empreendedores!!…rss. Particularmente, li o livro e gostei muito!! Mas também tenho alguns “poréns” em relação a auto ajuda, como Paulo Vieira (e seu O Poder da Ação), por exemplo. Principalmente esses livros que mandam a gente ficar escrevendo coisas e fazendo “dever de casa”. Isso me cansa e aborrece. Mas isso é tão pessoal, né?
    Muito bom seu artigo!!

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  5. Olá Ana, é sempre muito proveitoso ler seus artigos, e este em especial!
    Sou muito fã de livros de desenvolvimento pessoal, eu acredito que ninguém nasce pronto e viver é sim um grande desafio e uma oportunidade de evolução, desde que você reconheça isso! Ao longo do tempo aprendi a selecionar os bons livros, e foi LENDO, adquirindo NOVOS conhecimentos de diferentes áreas que desenvolvi o mínimo de senso crítico que tenho hoje. Esse senso crítico que não surge de troca de ofensas nas Redes Sociais, onde as pessoas dizem qualquer coisa, sem nenhum tipo de reflexão, de análise, de conhecimento filosófico, de nenhuma vivência pessoal ou de fundamentos científicos! Obrigada Ana, por essa sua maravilhosa reflexão e pelas dicas de livros, dois dos quais eu ainda não lí, mas já estou vou providenciando ; ) <3

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  6. Seu texto é muito equilibrado e demonstra que títulos comerciais podem enganar quanto ao conteúdo de um livro. Sábia sua colocação de chamar as obras realmente proveitosas de livros de “desenvolvimento pessoal”. Os critérios que você aponta para selecionar esses livros são objetivos e úteis.
    Preconceitos costumam sempre limitar nossas experiências e conhecimento. Somente o cultivo da interação e a busca do conhecimento pode esclarecer dúvidas e aumentar nossa capacidade de desenvolvimento pessoal. Aguardando a segunda parte…

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  7. Olá Ana,
    Interessante seu ponto de vista. Nao conheço esses autores e não li esses livros. Mas acredito que o importante também é quão dedicafo foi o autor parazfazer a obra em específico. Ou foi uma obra apenas para vender. Uma coisa é o simples. Outra a pasteurização e a banalização, que pode ser feita por todos. Abs e parabéns pelo post.

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  8. Parabéns pelo artigo! sempre ouço pessoas ignorantes dizendo: vc tá lendo livro de auto ajuda? e o pior, elas não sabem nem mesmo do que se trata. Acredito que isso ocorra porque essas pessoas vivem assistindo televisão e o que não falta é programas de TV e pseudointelectuais ridicularizando este tipo de literatura como se fosse algo a ser evitado.

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